Ana Paula é uma mulher inquieta. Sempre buscando novas maneiras de melhorar a qualidade de vida no trabalho, contribuir para o meio ambiente e trabalhar com relações mais humanas, em agosto, ela embarca no programa Master Reflective Social Practice da London Metropolitan University. Por hora, conversamos sobre mercado de trabalho, oportunidades internacionais, treinamento e auto-conhecimento…
Qual a importância do treinamento para atualização no mercado de trabalho?
A velocidade da geração de informações, da criação de produtos e conceitos, de novos jeitos de se fazer as coisas, dos processos, de tudo isso junto, requer uma atualização constante para não ficarmos defasados. Entretanto, querer estar atualizado sobre tudo é absolutamente impossível e desgastante. Já se observam inclusive sintomas de alta ansiedade em profissionais que buscam estar “antenados”, principalmente jovens, habitualmente bem conectados com mídias sociais e munidos de informações de diversas fontes.
O ideal é que escolhamos bem quais tipos de treinamento queremos fazer e quais são de fato importantes para o nosso desenvolvimento. Às vezes, o mercado até dita alguma tendência, mas…
Será que isso também se aplica para mim?
Será que preciso mesmo da competência X ou Y que a mídia especializada está falando no momento?
E ainda: Quais treinamentos ligados a comportamento e atitudes seriam importantes?
O tipo de treinamento ligado às relações humanas é o menos estimulado no mercado e pode fazer uma grande diferença em âmbito individual e social.
Quem tem oportunidade, deve buscar fazer intercâmbio internacional? Por quê?
Esta é uma oportunidade excelente! E o intercâmbio internacional se aplica a qualquer fase da vida e não apenas para jovens do ensino médio ou universitários. Vale certamente para todas as faixas etárias e fases de vida.
Revistas especializadas em intercâmbio mostram casos de viajantes de diferentes origens, idades, formações que sempre trazem uma experiência valorosa na bagagem.
O intercâmbio pode ser para estudos, trabalho ou mesmo para observação de uma cultura diferente. Como no caso do período sabático, em que a pessoa decide dar uma pausa no dia-a-dia para mergulhar em si própria e, muitas vezes, este mergulho se dá viajando e entrando em contato com outras culturas.
A partir do conhecimento de outros tipos de vida, idiomas, alimentos, vestuários, jeitos de ser, acabamos conhecendo melhor a nós mesmos, inclusive como espécie humana. Vemos o diferente, mas vemos também o que é universal. Poderíamos ficar um bom tempo comentando ganhos organizacionais e profissionais decorrentes do intercâmbio internacional, mas o principal ganho é a “aprendizagem da vida”.
Se estivermos atentos, a cada viagem voltamos pessoas transformadas.
De que maneira as palestras e workshops de curta duração podem contribuir para a formação profissional?
Sou aberta a diferentes formatos e durações de formações. O ser humano pode aprender em qualquer situação, das mais planejadas às mais inusitadas.
Um encontro no ponto de ônibus pode ser tão didático quanto uma aula do melhor MBA. Claro, o que importa é “o que” vai se aprender. Acredito que de acordo com “o que” se queira aprender podemos selecionar o “como” vamos aprender.
O grau de profundidade não necessariamente vem de um ou outro tipo de formação. Podemos encontrar uma pós-graduação inteira sem muita profundidade e um workshop de três horas que mobilize o participante por inteiro em relação a um conceito, a um sentimento ou a uma ação.
Uma palestra de uma hora muitas vezes é um primeiro contato com o tema, uma sensibilização, assim como uma oficina de curta duração. Mas ambos podem contribuir para a formação profissional se não forem fechados, no estilo “assim é que se faz” (o que não explora a autonomia e a curiosidade da pessoa), mas que deixem estímulos para os profissionais continuarem buscando desenvolver o tema. Acredito que estes meios de aprendizagem são muito úteis quando são uma porta de entrada e não uma receita de bolo.
De que maneira a auto-avaliação pode contribuir para o desenvolvimento pessoal e a construção de um plano de carreira alinhado com habilidades e anseios pessoais?
A auto-avaliação pode contribuir totalmente para tal, digamos que quase 99%. Digo quase, pois ninguém é uma ilha; somos gregários e atualmente cada vez mais interdependentes. Sendo assim, a avaliação de quem está ao nosso redor é muito valiosa também, mas vale lembrar que não é absoluta.
Precisamos ter a humildade de ouvir outras avaliações para nos desenvolvermos, mas precisamos ainda mais conhecer a nós mesmos para podermos construir nossos caminhos profissionais, o que nem sempre ocorre. Muitos vão atrás do que o “mercado” diz que é necessário. Será que isso resolve? Será que tudo que o mercado dita para um bom plano de carreira é adequado para resolver os problemas do mundo atual?
Nossa carreira precisa estar alinhada com a gente mesmo, é claro, mas também com o contexto da Terra como um todo. 99% de auto-avaliação pode ser exagero. De fato, é apenas uma forma de lembrar: “Ei, o que você aí quer fazer no mundo? Que contribuição à sociedade precisa da sua parte? Quais das suas habilidades podem ser úteis para o seu sustento e alegria, mas para outras pessoas também? Quais são as suas necessidades econômicas? E como você se lembra dos seus anseios de vida e peculiaridades pessoais junto com tudo isso?”
Em síntese, a auto-avaliação é imprescindível para um plano de carreira que traga realização nas esferas micro (a gente com a gente mesmo) e macro (a sociedade como um todo).
Ana Paula Döring é formada em direito (PUC-PR), relações públicas (UFPR) e coaching (Instituto Ecosocial-SP) com especialização em Gestão do Conhecimento (PUC-PR). Já desenvolveu grandes projetos na Renault, montou o Núcleo de Estudos do Terceiro Setor da Universidade Positivo, onde ministrou aulas, palestras e organizou diversos seminários. Em 2007, foi premiada pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha com o Programa de Trainee em Meio Ambiente da Fundação O Boticário.